Desde o lançamento oficial de VALORANT em junho, toda a atenção do mercado está, naturalmente, voltada para o rumo que a Riot pretende seguir com o título. Uma das grandes expectativas é de que ele poderia se tornar o mais novo e-sport de sucesso da desenvolvedora, mas isso seria viável? Que abordagem a Riot pretende adotar? Especulamos sobre algumas direções potenciais.
A presença do VALORANT nos e-sports até o momento
É preciso reconhecer que a Riot Games conseguiu criar um FPS baseado em classes divertido e relativamente simples de entender. VALORANT une alguns dos melhores elementos do CS:GO, como o sistema de armas e a economia de jogo com uma forte influência de títulos MOBA, claramente percebida nas habilidades dos vários personagens. Essa influência não é muito diferente da encontrada em outro FPS baseado em classes, o Overwatch.
A empresa está seguindo o que foi estabelecido nas Diretrizes de competição da comunidade de VALORANT, se posicionando entre torneios de pequeno e médio porte.
Essa combinação de diversão e facilidade de entendimento é um quesito no qual o Overwatch, da Blizzard, deixou um pouco a desejar. Overwatch tem sido notoriamente difícil de observar, com mapas grandes, personagens correndo em velocidades diferentes e muito jogo acontecendo fora do chão. A ação de VALORANT, por outro lado, acontece predominantemente no solo, com poucas jogadas no ar. Além disso, todos os personagens se movimentam em velocidades semelhantes e os mapas são bastante reduzidos. A Riot conseguiu acertar essa diferença fundamental, garantindo uma ação concentrada, mais fácil de acompanhar e, principalmente, de assistir.
Devido ao lançamento recente do jogo, o cenário competitivo de VALORANT tem sido representado por uma série de torneios organizados de forma independente. Esses torneios foram realizados por várias organizações conhecidas do cenário do CS:GO e do League of Legends, título de maior destaque da Riot, como G2, Fnatic e 100 Thieves, além de outros organizadores independentes, pertencentes à comunidade. Até o momento, os pools de prêmios desses torneios, em sua grande maioria, se mantiveram abaixo de US$ 5 mil, com poucos oferecendo premiações acima dos US$ 10 mil.
Os torneios têm sido uma mistura de “partidas de exibição” e eventos competitivos sérios, com streamers e jogadores ativos em outros títulos competindo principalmente em exibições, enquanto jogadores que têm a intenção de se destacar no VALORANT, especificamente, tendendo a participar do cenário competitivo em si. Uma vez que a Riot, por meio das Diretrizes de competição da comunidade de VALORANT, permitiu que qualquer um lance um torneio cuja premiação seja inferior a US$ 10 mil, era provavelmente inevitável que os dois tipos de eventos fossem utilizados durante as primeiras fases da vida do jogo.
- Leia: O que é o VALORANT?
Não surpreende que a maioria dos competidores atuais de VALORANT sejam nomes conhecidos de outros FPS, principalmente CS:GO ou Overwatch. No entanto, com exceção de exemplos raros como Jay "sinatraa" Won, vencedor e MVP da Overwatch League 2019, a grande maioria dos jogadores que migraram para o VALORANT já se aproximavam do final de suas careiras competitivas nos seus títulos originais ou são competidores notáveis de segundo ou terceiro nível que nunca conseguiram avançar para os níveis superiores de suas respectivas ligas.
Mas é preciso ter em mente que o ecossistema de VALORANT ainda está começando a se desenvolver. Basta saber se esse grande interesse no jogo continuará no futuro e qual direção a Riot pretende seguir com seu próximo grande lançamento.
Qual a abordagem da Riot Games?
Até agora, o cenário competitivo de VALORANT não está começando de maneira muito diferente do que aconteceu no início de League of Legends. A desenvolvedora está trabalhando com organizadores terceirizados, lançando torneios comunitários e implementando lentamente um ecossistema estável, capaz de se autorregular. Contudo, algumas diferenças importantes podem ser percebidas entre 2009, ano de lançamento do LoL, e 2020.
Até este momento do crescimento de VALORANT, a Riot não parece estar efetivamente focada no cenário competitivo que surge em torno do título. É importante mencionar que, no momento em que este artigo foi escrito, VALORANT completava pouco mais de duas semanas de lançamento oficial depois de uma fase beta aberta público que durou apenas três meses, então não devemos nos surpreender com a postura da empresa. É natural que desenvolvedores priorizem o crescimento de sua base de jogadores antes de se dedicar ao fortalecimento de um título no cenário dos e-sports
Em 2020, a maneira mais natural de fazer isso é por meio de uma série de influenciadores digitais. Conquistar os influenciadores com maior alcance de público é o modo mais certo de tornar um jogo viável nos próximos anos, especialmente quando o objetivo é conviver, e potencialmente competir, com títulos como o CS:GO. Além disso, é preciso garantir que o jogo ofereça uma mistura atrativa de diversão, competição e eficiência, e que seja executado sem sobrecarregar os computadores dos usuários.
A empresa está seguindo o que foi estabelecido nas Diretrizes de competição da comunidade de VALORANT. Até meados de junho, praticamente todos os eventos de VALORANT poderiam ser classificados como "pequenos", com prêmios limitados a US$ 10 mil e sem nenhuma contribuição oficial para o seu design ou implementação.
A Ignition Series pode ser vista como o primeiro conjunto de torneios médios dedicados ao título, organizados por empresas de "nível intermediário" e organizações de e-sports. Com prêmios superando os US$ 10 mil, e já contando com o apoio criativo e competitivo da Riot, a Ignition Series deu início à segunda etapa dos objetivos da Riot para o jogo. No entanto, conforme observado nas diretrizes de competição, torneios como a Ignition Series não terão qualquer impacto sobre o ecossistema de e-sports mais amplo de VALORANT.
O primeiro desses torneios foi organizado pela europeia G2 e-sports. Com a liberdade de não impactar diretamente um ecossistema mais amplo, o G2 tournament apresentou uma mistura de influenciadores digitais, streamers e jogadores aspirantes a profissionais. Não foi um torneio de altamente competitivo, um fato imediatamente óbvio a partir da inclusão de Carlos "ocelote" Rodriguez, CEO da G2, e jogadores das equipes consolidadas do jogo, espalhados por diferentes listas.
O grupo A está PRONTO
— G2 E-Sports (@G2esports) 18 de junho de 2020
Qual equipe vai superar todas as outras? Apresentado pela @redbullgaming
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Isso nos leva à terceira etapa: os "Majors". A Riot deixou claro que tem grandes planos ao divulgar uma lista de organizadores pretendidos incluindo os melhores e mais conhecidos organizadores terceirizados de eventos, como ESL, DreamHack e OGN entre seus exemplos. Isso não é surpresa para aqueles que conhecem a história de League of Legends, já que a Riot trabalhou com cada um desses organizadores nos estágios iniciais de crescimento competitivo do MOBA.
A própria empresa mencionou que a intenção é de que os "Majors" não sejam os eventos finais dentro do cenário competitivo de VALORANT, servindo como competições de "entrada". Além disso, ao declarar que os Majors serão apenas eventos "semiprofissionais oficiais", a Riot demonstrou seus planos de manter grandes organizadores terceirizados de eventos afastados de suas ligas de nível superior, utilizando-os como contribuintes para o desenvolvimento do "ecossistema global de e-sports" do jogo.
Então, o que deve acontecer depois dessa terceira etapa? A Riot não fez nenhuma declaração a esse respeito, mas a reação mais natural é usar o League of Legends para estabelecer um comparativo. Muitos esperam que a desenvolvedora continue seguindo os passos adotados em seu primeiro jogo, replicando o processo que tornou a empresa a mais bem-sucedida no cenário dos e-sports. Depois de anos de crescimento do jogo apoiado por organizadores terceirizados e um circuito semirregulado, é provável que a Riot assuma controle total de suas ligas e competidores de elite.
Quanto tempo isso vai levar?
Existe um questionamento óbvio sobre quanto tempo levaria até que a Riot chegasse a esse ponto, decidindo controlar todas as ligas de nível superior de VALORANT. Embora League of Legends tenha sido lançado em 2009, a Riot não foi responsável pela realização do Mundial até 2011, e o circuito LCS só teve início em 2013.
É preciso reconhecer que a Riot Games conseguiu criar um FPS baseado em classes divertido e relativamente simples de entender.
Contudo, precisamos ter em mente que a Riot Games de 2020 é operacionalmente muito mais enxuta do que costumava ser no início de 2010. Em um cenário normal, não seria surpreendente se o primeiro Major apoiado pela Riot ocorresse antes do final de 2020 ou no início de 2021, avançando para o lançamento de um circuito mundial entre a metade e o final de 2021.
Mas não estamos vivenciando um momento que sequer se aproxima de ser normal. A atual pandemia de covid-19 é certamente o maior obstáculo para a viabilidade de VALORANT como um e-sport, limitando severamente a possibilidade de organização de eventos LAN presenciais, reconhecidos como o auge das competições de e-sports. Essa limitação se estende ao acesso à capacidade de criação de conteúdo em torno das estrelas em ascensão no jogo ou de reunir os melhores jogadores de diferentes regiões.
Além da questão do tempo e do cenário mundial atual, existe uma série de outras dúvidas sobre como a Riot pretende tratar seu mais novo lançamento. A empresa manteria o mesmo formato de tratamento utilizado no League of Legends, com o objetivo de manter a segurança, além do aspecto informativo, clareza e seriedade de suas transmissões? Ou eles tentariam algo diferente, optando por um formato de transmissão semelhante ao CS:GO, mais descontraídos, permitindo maior liberdade criativa do que a necessária em transmissões da LCS.
- Leia: Funções no VALORANT
Em termos de viabilidade, VALORANT tem tudo que é necessário para se tornar um e-sport de sucesso. Além de contar com uma desenvolvedora com histórico impressionante na realização de competições de e-sports, o jogo conta com a adesão do público, propaganda extensiva respaldada por uma série de torneios e um plano cuidadosamente projetado. O mais importante, contudo, é que VALORANT é um jogo divertido e simples de jogar e assistir.